A hegemonia de um grupo que permanece no controle da Central Única dos Trabalhadores (CUT) desde a sua fundação, além de outras críticas, é o principal motivo da provável saída da Corrente Sindical Classista (CSC), impulsionada por militantes do PCdoB, da entidade.
Os comunistas pretendem fundar uma nova central sindical e, com isso, dar maior visibilidade às suas idéias e difundi-las entre a base dos trabalhadores. Hoje, a CSC é a segunda maior força política dentro da CUT, a maior central do país.
“Queremos que a sociedade conheça nossas idéias. E isso não estava sendo possível dentro da CUT, e avaliamos que nem seria possível”, revela Wagner Gomes, membro da CSC e vice-presidente nacional da CUT.
A decisão foi aprovada no Comitê Central do PCdoB, mas Wagner explica que a decisão partiu da base da CSC. “A decisão não foi do partido, mas da corrente, que também conta com militantes de outros grupos, como o PT”, explica.
A nova central, que ainda não tem nome definido, deve manter uma relação de proximidade com a CUT. “Não seremos uma central de oposição à CUT, achamos que a ela ainda tem um papel importante a cumprir. Teremos uma relação de parceria prioritária com a CUT”, prevê Wagner Gomes.
Decisão sai em outubro
A CSC realizará, em outubro, uma assembléia extraordinária para decidir sobre a saída da CUT. Se for aprovada, como é provável que aconteça, a nova central deve ter um congresso de fundação já em dezembro. Com isso, a corrente desocupará os seus cinco cargos na executiva nacional da CUT antes do prazo previsto – a última eleição da executiva foi em 2006 e o mandato é de 3 anos.
Segundo cálculos da corrente, a CSC tem militantes em cerca de 800 sindicatos, sendo que possui hegemonia em aproximadamente 400.
Pela recém-lançada lei que legaliza as centrais sindicais, a CSC conseguirá atingir os pré-requisitos de representatividade e se firmar enquanto central.
Questionado se a central encabeçada pela CSC seria maior que recém-fundada União Geral dos Trabalhadores (UGT, resultado da fusão entre três centrais), Wagner explica que a CSC não pretende fazer sindicalismo com números. “Não queremos ter muitos sindicatos só no cartório, vamos construir um sindicalismo com trabalho de base efetivo”.
Wagner Gomes afirma que sua corrente tem estabelecido diálogo com outras forças políticas do movimento sindical para tentar aglutinar o maior número de trabalhadores. O dirigente confirmou conversas com o PSB, com diversas federações de trabalhadores rurais e a Central Geral dos Trabalhadores Brasileiros (CGTB).
Histórico
A Articulação Sindical (Artsind), grupo ligado ao Campo Majoritário do PT, controla a CUT desde 1983, data da fundação. Os sindicalistas ligados ao PCdoB, à época, foram contra a decisão de fundar a CUT, acreditando que o movimento de fundação, protagonizado pelos petistas, vinha no sentido de dividir o movimento sindical. Após a fragmentação ocasionada pela repressão da ditadura militar, o movimento tinha conseguido uma unicidade na Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat), em 1981.
Na Conclat, deliberou-se a formação da Comissão Nacinal Pró-CUT, os militantes do PcdoB foram contra e passaram a atuar na Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), até 1991. Devido a opção clara desta central pelo “sindicalismo de resultados” e o respaldo político dado ao governo Fernando Collor – inclusive indicando o ministro do Trabalho, Rogério Magri – a CSC rompeu com a central e aderiu à CUT.
Um setor da CGT, aparelhada pelo governo Collor, sai da entidade e funda outra CGT, enquanto lideranças mais afinadas com a colaboração de classes fundam a Força Sindical. A principal liderança desse sindicalismo era Luiz Antonio de Medeiros, primeiro presidente da entidade e, atualmente, secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho.
“Quando aderimos à CUT havia uma polarização no movimento sindical, entre a CUT e a Força Sindical. Resolvemos ir para o lado que estava mais comprometido com a luta dos trabalhadores, mas hoje o movimento sindical está pulverizado, com mais de cinco centrais. Então, resolvemos fundar a nossa própria central para nos expressar de forma melhor”, avalia Wagner Gomes.
Desde o início de sua história na CUT, a CSC teve uma posição mais próxima à direção da CUT do que outros setores, que acabaram saindo da central para se agrupar na Conlutas e na Intersindical. A CSC, por diversas vezes, compôs chapa com a Artsind e outros setores do PT, inclusive no último Congresso da CUT