Um novo massacre atingiu os trabalhadores do campo quando, uma vez mais, a propriedade foi colocada acima da vida. Em Santa Tereza do Oeste (PR), na tarde do dia 21, um acampamento da Via Campesina foi atacado por uma milícia armada, com cerca de 40 pistoleiros. Isso aconteceu horas depois de os trabalhadores ocuparem o campo de experimentos transgênicos da transnacional suíça Syngenta Seeds.
Durante o ataque da milícia, Valmir Mota de Oliveira foi executado à queima roupa, com dois tiros. Conhecido como Keno, o militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina tinha 34 anos. Outros cinco trabalhadores foram feridos: Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos e Hudson Cardin. A sem-terra Izabel Nascimento de Souza, atingida por três tiros e espancada pelos seguranças privados, encontra-se hospitalizada em estado grave. Um dos paramilitares foi morto e a polícia investiga a causa da sua morte.
Ao ocupar a área no amanhecer do dia 21, os trabalhadores sem terra espantaram os quatro seguranças presentes no local com fogos de artifício. Por volta de 150 famílias levantaram acampamento e a ocupação da área se repetia. A primeira ocupação do campo experimental da Syngenta aconteceu em março de 2006 com o intuito de denunciar o cultivo ilegal de sementes de milho e soja transgênicos dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu.
Depois de os quatro seguranças que estavam no local terem fugido, suas armas foram apreendidas pelos membros da Via Campesina de modo a serem entregues à polícia. Porém, sem que o Judiciário tivesse se manifestado, um ônibus retornou carregado de 40 pistoleiros armados.
Os milicianos usavam o colete da NF Segurança, empresa que executou a ação, contratada oficialmente pela Syngenta. Em nota, a Via Campesina denuncia a relação entre a milícia armada e a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR), que são respectivamente os braços político e militar do agronegócio, comandados pelo latifundiário Alessandro Meneghel. Já faz seis meses que as duas organizações, ao lado da transnacional Syngenta, vêm ameaçando de morte dirigentes do MST, como Valmir Mota.
“Keno havia sido ameaçado, os seguranças sabiam bem quem eram as pessoas que eles queriam matar”, comenta um advogado da organização Terra de Direitos. “O MPR arrecada dinheiro para contratar milícias para despejos. O primeiro ato foi em abril deste ano e os mesmos milicianos que participaram naquela época foram reconhecidos atuando na Syngenta”, denuncia.
No Paraná, existe um contexto de repressão por parte de grupos privados, no campo e na cidade. Em 2006, o Estado computou 91 casos de violência apenas no campo, afetando milhares de pessoas, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A situação das milícias no campo já havia sido denunciada em uma audiência pública, realizada no dia 18.
A Via Campesina manifesta-se pela punição dos responsáveis pelos crimes, pede a desarticulação da milícia armada na região e o fechamento da empresa de segurança NF. Existem suspeitas de que a empresa é de fachada e que, na hora das operações, são contratados mais seguranças de forma ilegal. Segundo nota veiculado na página eletrônica do MST, “em setembro de 2007, a Polícia Federal fez uma operação na empresa de segurança NF Segurança. A diretora da empresa – Maria Ivanete Campos de Freitas – foi presa e seu proprietário fugiu. A munição e as armas utilizadas pela empresa eram ilegais. Foi instaurado um inquérito policial ( IPL 383/07) para apurar os fatos”.
A Via Campesina também pede segurança e proteção das vidas dos dirigentes e trabalhadores da entidade na região.