A cerimônia de inauguração da televisão digital foi realizada em São Paulo no dia 2 de dezembro passado pelo presidente Luiz Inácio num contexto em que a maioria da população brasileira, que não é bem atendida pelos serviços públicos em sua necessidade de desenvolvimento, só poderia ver o ato como um deboche de nossas autoridades. Mais ainda, assistiu-se a uma reiteração do poder oligárquico às custas de um tom de esquecimento dos desprovidos, que se conformaram ao pronunciamento oficial através do sinal analógico destinado ao sepultamento.
Não é o momento adequado para esse tipo de políticas, uma vez que o meio privado é o que mais se encarrega da modernização da rede de televisão aberta. O governo pode facilitar e oferecer barreiras menores à implantação do sistema digital, porém sem canalizar verbas públicas para esse fim como a de R$ 1 bilhão liberada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Um papel mais responsável é reduzir a burocracia para essa tecnologia, promover a concorrência entre as fabricantes do conversor de sinal, e obrigar a transmissão do sinal analógico por mais tempo.
Triunfaram as principais emissoras brasileiras de televisão, como a Globo e o SBT, com medidas que fortalecem o seu poder e prestígio no Brasil; os conversores de sinal digital são vendidos a preços amiúde mais altos do que o que se paga por um televisor em residências de classes baixa e média, ou seja, os mais simples não custam menos de R$ 350,00 e, por isso, a medida não democratiza o acesso à nova tecnologia nas atuais condições, além de o prazo de 2016 para o fim da transmissão analógica ser cedo demais para muitas pessoas.
Oras,é bom experimentar o gostinho do progresso que advém da ciência e tecnologia, mas ele fica amargo quando descobrimos que é para poucos usuários do novo sistema e poucos grupos empresariais vinculados à comunicação. O debate começaria bem se questionássemos se todas as emissoras estão aptas a investir no sistema digital, e se todos os cidadãos, sobretudo os mais pobres, têm condições financeiras de aderir ao novo atrativo. Estas perguntas merecem esclarecimento urgente por parte dos envolvidos nos investimentos.
A televisão digital no Brasil parece uma piada mal contada, ou da que só riem os poucos que a entenderam. Num país cujo governo espolia a população com tributos em tudo quanto é meio e nem assim retornam bons serviços públicos, o anúncio da televisão digital e o alto custo de um televisor preparado ou do conversor de sinal se compara com a venda de caviar a quem mal tem condições de comprar feijão. Alimento básico cujo preço dispara para o alto é notícia recente e, também, outra piada. Enfim, toca sintonizar a antena para entender o que fazem do país.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais