A Secretária de Estado dos EUA, Condolezza Rice, saiu em viagem de última hora ao Brasil e Chile logo depois da invasão do exército colombiano ao território equatoriano. O fato foi divulgado pelo sítio do Departamento de Estado dos EUA no dia 6 de março, onde ficamos sabendo que o objetivo da visita seria “ressaltar o forte relacionamento dos Estados Unidos com estes dois parceiros regionais estratégicos”, os governos de Michelle Bachelet e Lula da Silva.
Nesta viagem, destacamos sua visita à Bahia. Foi uma grande festa, com recepções de autoridades políticas, empresários, grupos culturais, a igreja católica e farta repercussão midiática. O governador Jaques Wagner (PT-PMDB-PSDB-PCdoB-PTB-PSB-PP-PPS-PR-PV-PSC-PDT-ETC) foi o grande anfitrião da “Número 2” da Casa Branca, sede do governo estadunidense. Aquela que é o braço direito de George Bush (o senhor da guerra) e está sempre na linha de frente do genocídio perpetrado pelo terrorismo de estado dos EUA.
Wagner estava esfuziante de alegria e declarou ao jornal A Tarde: “não tenho dúvidas, pelo que percebi, ela saiu daqui tocada, não somente na mente, mas principalmente no coração”. Tudo isto imediatamente depois da ação terrorista do governo da Colômbia no Equador, diretamente monitorado pelos EUA e a CIA especialmente.
Tudo isto, também no momento em que o Departamento de Estado dos EUA está aprofundando o cerco contra imigrantes brasileiros em todo o país. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o Consulado-Geral do Brasil em Boston informou que, somente no estado de Massachusetts, o número de brasileiros presos esperando para serem deportados passou de uma média de 150 no segundo semestre de 2007 para 200 no início deste ano. O número médio de brasileiros deportados por mês passou de 37 para 45, apenas no estado de Massachusetts. Como se sabe, Condolezza Rice é a chefa do Departamento de Estado dos EUA, considerado o segundo cargo mais importante do governo, depois da presidência.
As festividades tiveram também a presença animada do ministro Gilberto Gil, de Carlinhos Brown, de Margareth Menezes, do Bagunçaço e do Olodum. Este último, inclusive, aproveitou para pedir “apoio cultural” da USAID, a agência estadunidense que tem forte presença da CIA e sempre atuou como cabeça de ponte para as políticas de dominação, não apenas cultural, dos EUA. Estiveram presentes ainda empresários e os ministros Marta Suplicy (Turismo) e Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), além do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB-PT-PDT-PV-PP-PSC-ETC), o algoz dos terreiros de candomblé. Todos interessados em promover o “turismo étnico”, o grande assunto da pauta.
A vinda da ministra do turismo Marta Suplicy à Bahia esteve dentro da estratégia de “vender” o Brasil e a Bahia. Neste sentido, a ministra declarou que a número 2 de Bush será nossa “garota-propaganda”. A imprensa local deu ênfase a este aspecto ressaltando que a “Secretária vai vender a Bahia”. Sem dúvida, ela está legalmente autorizada para isto. Como estamos numa “sociedade de mercado”, quem compra tem todo o direito de vender.
O governador Jaques Wagner disse ainda que “nós encantamos uma pessoa que nunca tinha conhecido e que viu a nossa religiosidade, a cultura, a comida. Eu acho que ela adorou”. É verdade, com certeza ela deve ter adorado. Enfim, parece mesmo que o “amor é lindo”, apesar do presidente dos EUA e seu Departamento de Estado defenderem explicitamente o uso da tortura, como no tempo da escravidão, contra aqueles que ameaçam sua dominação. Como disse o professor Caio Navarro de Toledo, havia no ar um clima de “Casa Branca & Senzala”.
Entretanto, parece que a senhora Condolezza Rice gostou da festa, mas rejeitou o “espírito da coisa” imaginado pelo governador. Na Bahia, ela colocou a fitinha do Senhor do Bonfim no braço e, certamente, deve ter feito três pedidos: vencer a guerra no Iraque, derrotar Chávez na Venezuela e ganhar as eleições presidenciais dos Estados Unidos com o candidato do Partido Republicano, apoiado por Bush, John McCain.
Porém, no mesmo dia, ao chegar em Santiago do Chile, já posava para fotos sem a fitinha, ao lado de um ministro chileno. Pelo jeito, seu coração esqueceu bem rápido a cultura baiana. Mas, se tirou a fita antes da hora, então vai se dar mal! E a força dos Orixás vai se voltar contra o imperialismo!
Jorge Almeida é professor de Ciência Política e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA)