O ESTADO CRIMINALIZA O PROTESTO PARA PERSEGUIR A POBREZA! O POVO RESISTE!

Os assuntos desta página tratam da dominação estruturada em sua face mais cruel. O ato da dominação de classe inclui as formas de repressão física, exploração econômica, exclusão social, alienação cultural e opressão administrativa. Como se sabe dominar é uma ação complexa, envolvendo: níveis de governo; o Estado como um todo; o interesse de classe dominante; os aparatos repressivos; a domesticação cotidiana que vem através da mídia corporativa; e também das ideologias, partidos, correntes e movimentos que um dia foram de esquerda-reformista e hoje são pior do que a direita. Mas, como nem tudo está perdido, sempre onde há opressão pode haver resistência. E, na ponta da lança em luta pela liberdade, estão as companheiras!

No seio do movimento popular gaúcho nasceu uma geração de mulheres militantes do campo e da cidade que resolveram tomar o destino nas mãos. São mães, militantes de base, camponesas, funcionárias públicas, professoras e trabalhadoras de diversos ofícios. De comum entre elas, o ódio a toda e qualquer forma de opressão e o amor à luta coletiva. Como toda combatente do povo, estas companheiras traduzem suas palavras em forma de ação direta!

Tivemos a alegria de conversar e tomar o relato de duas militantes camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de uma sindicalista de base, municipária militante do Simpa da capital gaúcha. Nas palavras que seguem, temos a prova viva do testemunho de gente que doa a sua vida para construir uma sociedade justa, igualitária, fraterna e soberana.

ENTREVISTA COM DUAS COMPANHEIRAS DO MST. DEVIDO À PERSEGUIÇÃO DO ESTADO, NOS RESERVAMOS O DIREITO DE MANTER A INTEGRIDADE DA FONTE.

– Pergunto para as companheiras qual é a relação da luta das mulheres camponesas com a defesa do solo, da terra, dos mananciais e das sementes nativas? Por conseqüência, porque a opção da ação direta como forma de luta contra as papeleiras no Rio Grande?

Nós mulheres organizadas no MST e na Via Campesina, compreendemos que todas as riquezas naturais como terra, biodiversidade, mananciais, sementes são patrimônio da humanidade e nós os camponeses (as) temos um papel social que é produzir alimentos saudáveis sem agrotóxicos e sem transgênicos para alimentar os demais trabalhadores.

No entanto estamos diante de um modelo de agricultura chamado agronegócio que tem por objetivo apenas o lucro das grandes empresas capitalistas em grande maioria estrangeiras que dividiram o planeta segundo seus interesses para melhor lucrar, nesta divisão coube a América Latina produzir matéria-prima para exportação aos países ricos de 1º mundo, é neste contexto que a produção de pasta de celulose é produzida nos países tropicais como o Brasil em que apenas 7 anos as árvores estão prontas já nos países da Europa demora 70 anos.

Eles instalam-se aqui, recebem recursos públicos dos governos, não pagam impostos, destroem nossa terra que demora 200 anos para recuperar a fertilidade em apenas 1 ciclo de 7 anos de plantio, provocando secas, destruindo biomas, árvores nativas por conta dos monocultivos extensivos, por fim o trabalho é escravo no campo, porque além de temporário não há garantia de nenhum direito social.

Neste sentido a luta das mulheres é uma necessidade, porque além de impedir que a reforma agrária aconteça, não há como produzir nessas regiões, e as mulheres são as primeiras a serem excluídas do trabalho na agricultura, aumentando o êxodo rural, a prostituição, a fome e a miséria no campo.

– Gostaria que vocês interpretassem a ação do Ministério Público Estadual (MPE/RS) no ano de 2008 e o acionar do Ministério Público Federal (MPF/RS) neste ano de 2009. Caracterizam esta forma reacionária dos procuradores como uma conspiração de direita? E, completando, quais são as conseqüências diretas para o dia a dia dos acampamentos e assentamentos dessa perseguição?

As duas instâncias do MPF e MPE assumiram publicamente neste último período que são contra os pobres, especialmente os que decidiram se organizar e lutar, por outro lado essas instâncias do judiciário assumiram a defesa do latifúndio e das empresas do agronegócio.

Contra o MST é uma determinação de impedir que a luta aconteça, é um momento de dissolução do MST que na prática se concretiza no fechamento das escolas dos acampamentos, nos despejos de áreas onde há assentamento são determinações de aumentar o padrão de repressão física. Por isso, afastar as crianças dos acampamentos e afastar qualquer acampamento que esteja próximo a áreas de latifúndio.

– A reforma agrária no Brasil é parte do direito constitucional. Mesmo assim, para exercer este direito, todos os movimentos populares sabem que a única garantia é a luta. Assim, qual a função do nível jurídico da luta popular e se este deve estar subordinado, ou não, às lutas de massas?

Nossa única saída é a organização para a luta, os donos do poder, do capital nos discriminam na nossa condição de pobres, as cadeias estão cheias de jovens pobres, por pequenos delitos na maioria das vezes para garantir a sobrevivência. Nós não podemos temer a criminalização da luta. Somente a luta tem o poder de mudar a ordem estabelecida pelos ricos, por isso quando optamos por ações na área jurídica são medidas complementares a luta organizada das massas, porque o poder público também foi instituído para garantir o lucro dos ricos.

– O ato de criminalizar o protesto social implica também em perseguir militantes do MST. Como está reagindo o Movimento diante desse ataque do Estado? E, também, como está a moral dos militantes processados por lutar?

Só no Rio Grande do Sul temos 1.200 militantes que respondem processos, muitos respondendo a vários processos, esta é outra face da repressão é a tentativa de frear a luta impondo amedrontamento à aquelas e aqueles que já estão convencidos que nosso problema é o modelo capitalista a causa de todos os males da classe trabalhadora. Porém somos militantes pobres e a solução de nossos problemas não está na acomodação ou das políticas de compensação destes governos que aí temos.

Nós militantes somos parte da classe trabalhadora e teremos dignidade na luta e na construção do socialismo, não podemos perder de vista este horizonte, assim enfrentamos as dificuldades impostas pela luta de classe da atualidade.

Entrevista feita pelo Coletivo Repórter Popular para o jornal da Intersindical