Não pode ser aceito como natural, uma tragédia provocada pelas ações autônomas da natureza, o que vive as crianças, mulheres e homens trabalhadores no Haiti.
O terremoto que devastou Porto Príncipe no dia 12 de janeiro, ainda é um fenômeno da natureza que não se pode conter, mas a miséria, a fome, a violência e a dominação impostas aos trabalhadores do Haiti, trata-se da ação do Capital e de seus Estados espalhados pelo mundo, que já na época da colonização impuseram a opressão e a exploração aos que foram retirados a força da África e levados como força de trabalho escrava para atender as necessidades de acumulação de riqueza dos colonizadores.
Começaram a vida no Haiti sofrendo, mas não se intimidando, enfrentaram seus “donos”, organizaram-se e se tornaram os primeiros negros nas Américas a conseguir acabar com a escravidão através da luta direta, fizeram uma revolução que serviu de exemplo para muitos que também estavam submetidos à escravidão.
Não se lamentam do preço que pagaram por tamanha ousadia, os anos passaram e enfrentaram ditaduras, governos fantoches do imperialismo e seguiram resistindo, lutando.
Há quase 6 anos enfrentam mais uma ocupação, disfarçada como Força de Paz, a Minustah, mais uma ocupação coordenada pelo EUA que tem como seu fiel escudeiro nessa tarefa o governo Lula.
E por que? O imperialismo americano e a burguesia brasileira querem explorar ao máximo a força de trabalho haitiana. Querem instalar no país fabricas “maquiliadoras”, usinas de etanol, além das empresas do ramo da construção civil que estão a postos para lucrarem muito com a”reconstrução” do Haiti. Se aproveitam de isenções tarifarias e fiscais, com o argumento de melhorar as condições de vida do povo haitiano. O vice-presidente do Brasil José de Alencar há tempos tem interesses em instalar suas fabricas no Haiti de olho na força de trabalho extremamente explorada.
É tão escancarado o papel das “Forças de Paz”, que basta olhar os noticiários que chegam do Haiti, os soldados armados até os dentes protegendo as equipes de imprensa, os representantes dos Estados que ocupam o País e a burguesia com suas propriedades privadas. Os protegem de quem? De crianças, mulheres e homens que perderam o quase nada que tinham e necessitam do básico para sobrevivência. Se protegem de crianças que precisam de água, de comida.
Os haitianos sequer conseguem enterrar seus mortos, que são muitos, mortos no primeiro dia do terremoto e muitos mesmo tendo sobrevivido não resistiram por não terem acesso ao atendimento médico necessário.
Mas a indignação, a comoção não pode ser somente pelo tamanho da tragédia de agora, é preciso olhar e ver além das imagens que os trabalhadores no Haiti já sofrem há muito tempo. O Capital e seu Estado durante muito tempo como se quisesse impor uma punição àqueles que lutaram contra a opressão, tentou esconder do mundo o povo haitiano.
O horror é tamanho que um terremoto que devastou o País, matou milhares e deixou milhões feridos e sem nada, lembrou ao mundo que o Haiti existe.
No último dia 18, as imagens que chegavam até nós falam por si só. Desvelaram os reais objetivos dos países que através da ONU ocupam o País..
Soldados atirando nos trabalhadores que buscam água e comida, o Exercito contendo com suas armas as crianças que choram de fome e sede, enquanto isso Bill Clinton posa para fotos carregando fardos de garrafas de água que não chegaram àqueles que têm sede.
Os instrumentos do Capital já prestam seu serviço nos noticiários,( sem contar que a maioria absoluta das equipes de TV e jornais disputam entre sim as “melhores” imagens, utilizando-se da tragédia para aumentar índices de audiência) ao dizer que a violência, a desordem e os saques aumentam a cada dia e por isso mais de 3 mil soldados serão enviados ao Haiti, para “conter o caos e manter a ordem”. Trata-se de conter a ação direta dos trabalhadores que buscam formas de sobrevivência, tentam conter para continuar ocultando o que de fato fazem as “Forças de Paz” no Haiti.
Precisam ocultar a força da solidariedade construída através de décadas entre os trabalhadores haitianos, que hoje os ajuda na barbárie buscar forças para sobreviver e resistir. Eles buscam seus sobreviventes, tentam enterrar seus mortos por mais que as Forças de Ocupação tente os jogar em valas comuns, são os pobres, os trabalhadores que de todas as formas buscam maneiras de sobreviver a tragédia e seguir resistindo.
Por isso mais uma vez somos chamados a cortar as cercas das nações que tentam nos dividir e garantir a solidariedade ativa de classe, que passa por organizar formas concretas de levar aos trabalhadores e seus movimentos o que mais necessitam agora: água, comida, roupa, recursos básicos para a sobrevivência.
Para, além disso, é preciso organizar uma ação conjunta do movimento sindical e popular no Brasil exigindo a desocupação militar do Haiti e que os recursos humanos e materiais que forem destinados para lá, sejam para atender as demandas dos trabalhadores, ou seja, comida, moradia, assistência médica, saneamento e educação.
Rompendo as fronteiras buscar uma unidade internacional para que se possa pressionar os países da Europa e dos EUA que hoje sobre o guarda-chuva da ONU ocupam o País.
A Intersindical tem participado de reuniões com diversas organizações e nos, nos próximos dias já teremos as ações organizadas junto aos trabalhadores no Brasil para concretizar a solidariedade ativa aos nossos irmãos de classe no Haiti.