Por Bancários da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora
Nessa sexta, 25/09/2015, mais um companheiro bancário se suicidou, com um tiro na cabeça, em frente à agência onde trabalhava. Ele era funcionário da Caixa Econômica Federal. Deixou uma carta, na qual, segundo relato dos colegas, dizia que já não podia suportar tanta cobrança. Nossas condolências e profundos sentimentos de solidariedade à família e amigos do companheiro.
Infelizmente, suicídios no setor bancário não são novidade. E, apesar de ser assunto delicado e triste, não podemos tratá-lo como um tabu. Suicídios (principalmente aqueles realizados nos locais de trabalho) são gritos por socorro e pedidos de ajuda. E mais, são um alerta desesperado aos demais, que podem estar caminhando para uma situação parecida.
Suicídios no trabalho são eventos que denunciam o nível de exploração e sofrimento causado pelos domínios do capital sobre o trabalho, do dinheiro e do lucro sobre a vida humana. O suicídio, as tentativas de suicídio ou outros comportamentos que levam à morte em si, são questões de saúde pública, e assim devem ser amplamente denunciados e enfrentados.
Nos anos recentes, tem-se divulgado como as afecções psíquicas, transtornos mentais, estresse e mortes relacionadas ao trabalho aumentam por todo o planeta, e como se relacionam a precarização das condições laborais a que somos submetidos diariamente. A depressão já é considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde, atingindo 400 milhões de pessoas. O estresse é visto por alguns especialistas como uma epidemia atrelada à sobrecarga de trabalho e jornadas extensas.
Em consonância, a persistência dos suicídios na categoria bancária mostra que o assunto não se restringe a uma questão individual. Entre 1993 e 1995 pelo menos 76 bancários cometeram suicídio em todo o país (1 a cada 15 dias, período em que mais de 430 mil trabalhadores no setor perdiam o emprego). Entre 1996 e 2005, foram 181 mortes (1 a cada 20 dias). Portanto, há uma relação histórica com reestruturações produtivas do capital, aprofundadas desde os anos 90 no setor bancário. Verificando as transformações em curso nos bancos públicos, com o desmonte do sistema financeiro estatal em evidente operação, estas mortes, não por acaso, ocorrem num período marcado por enxugamentos de quadros (como os PDVs e PAA´s, lançados pela CEF e BB em 26/02/2015 e 17/07/2015), mitigação dos direitos trabalhistas via projetos de lei, decretos, negociações coletivas rebaixadas, ampliação das terceirizações, do desemprego e da insegurança, além de uma profunda intensificação do trabalho. Sobrecarga, cobrança de resultados sempre maiores e mais “desafiadores”, metas impostas para obter maior produtividade e controlar as capacidades e potencialidades dos trabalhadores em prol do lucro, a cadência “frenética” de trabalho e o ritmo estafante moldam o contexto no setor, seja nos bancos privados ou públicos.
Competição entre colegas, dedicação integral à empresa e subserviência inquestionável ao patrão configuram o “comportamento produtivo” esperado e valorizado. Tais condições tem resultado aos bancários menos tempo ou energia para atividades extralaborais, na fragmentação dos laços sociais, em constantes sensações de fadiga e estafa, no maior consumo de drogas psicoativas, alcoolismo, depressão, síndromes do pânico, transtornos mentais, surtos. É uma realidade permeada por dor, angústia, e sofrimento. O desgaste físico e mental chega a ser tão insuportável que muitos colegas tiram a própria vida por conta da pressão, da solidão, do desespero.
Ao mesmo tempo, enquanto empresários e banqueiros assassinos ganham prêmios de “empresas mais éticas do mundo” (Banco do Brasil, pelo Instituto Ethisphere em 2015) e comemoram recordes de lucros, vivenciamos duros ataques a direitos sociais, com aval de políticos, governos e sindicalistas que na aparência dizem nos defender, mas há anos tem sido protagonistas ou coniventes com as investidas do capital sobre os trabalhadores.
A vida e a saúde são direitos dos quais não se pode abrir mão. Não podemos permitir que a conivência e o medo nos façam recuar. A luta pela saúde é a luta por isonomia e direito a férias e licença prêmio iguais para todos, pela equiparação salarial entre homens e mulheres, por extensão de benefícios aos trabalhadores e trabalhadoras que permitam maior tempo para a família, amigos, estudo, lazer. É a luta por mais funcionários nas dependências, pela redução da jornada sem redução de salário, pelo fim do controle exacerbado que invade nossa privacidade até por whatsapp e nos finais de semana, pelo fim do assédio moral e do assédio sexual (sejamos gerentes ou escriturárias, seja ele notório ou sutil), pelo fim das metas que nos tiram o sono, nos perturbam, nos adoecem e nos matam.