A violência praticada contra uma menina de 16 anos vítima de um estupro praticado por mais de 30 homens, escancarou a dura realidade imposta às mulheres todos os dias: a violação contra o corpo, a dignidade e a vida.
Os meios de comunicação só se viram obrigados a falar sobre o que sempre tentam ocultar, depois que esse ato de extrema violência foi praticado por 30 homens contra uma menina. Ato divulgado pelos próprios violentadores.
A cada 15 segundos no Brasil as mulheres são vítimas de algum tipo de violência: espancamentos, xingamentos, humilhação. E o estupro é parte desse arsenal que deixa marcas profundas e permanentes em cada uma.
Os números oficiais mostram muito menos do que se vive na realidade, pois quem deveria garantir punição aos agressores se omite. Nas delegacias de Polícia mais humilhação, no sistema de saúde mais burocracia para se proteger contra as doenças decorrentes do estupro. No Congresso Nacional leis que atentam contra a vida e a dignidade das mulheres, como as bolsas estupros, proposta pelo corrupto Eduardo Cunha, no Executivo, o governo interino de Michel Temer coloca na secretária de mulheres, uma mulher que além de também estar envolvida em esquemas de corrupção é contra o aborto, inclusive nos casos de estupro.
Para além do que é imposto culturalmente: o machismo imposto às mulheres se desenvolveu em sociedades anteriores ao capitalismo, mas é nessa forma de sociedade que ele avança para além de ser um instrumento de opressão contra as mulheres, também ser instrumento que potencializa a exploração contra o conjunto de nossa classe.
Para o Capital avançar ainda mais contra a classe e concentrar riqueza, é bom que se tenha salários desiguais entres mulheres e homens, ou seja, ao pagar menos para as trabalhadoras, arrocham os salários do conjunto da classe. Na sociedade do Capital, o corpo e a vida das mulheres continuam a servir como moeda de troca, nas propagandas das mais diversas mercadorias que vão de carros à cerveja, o corpo das mulheres se transforma em mais uma mercadoria.
E assim os espaços de dominação dessa sociedade de classes criam instrumentos para tentar naturalizar a agressão a que são submetidas as mulheres ao mesmo tempo em que tentam punir a vítima e não o agressor.
Mais do que punir os agressores da menina que foi estuprada por mais de 30 homens, é preciso escancarar que nessa sociedade dividida em classes, o Estado está montado para não só proteger quem agride e violenta mulheres, está montado para tentar perpetuar a opressão e a exploração ao conjunto de nossa classe.
É o mesmo Estado que mata crianças, como matou através da Polícia Militar, uma criança de 10 anos no dia 02 de junho na cidade de São Paulo. A polícia de Alckmin tenta justificar mais um assassinato, colocando crianças como bandidos. Os mesmos hipócritas que estão nos governos e no Congresso atentando contra a vida e a dignidade das mulheres ao tentar a todo custo impedir a descriminalização e legalização do aborto, são os mesmos que tentam diminuir a maioridade penal, para encarcerar os filhos de nossa classe.
São os mesmos que são coniventes com a violência do Estado que mata os filhos de nossa classe que quanto mais riqueza produz, mais se empobrece, enquanto gera os lucros do Capital.
Além de exigir punição para aqueles que sozinhos ou em grupos violentam as mulheres, é preciso exigir punição contra aqueles que se escondem nas abas da violência institucionalizada do Estado que violenta as mulheres ao continuar a criminalizar o aborto e ao mesmo tempo liberar a ideologia que tenta impor o corpo das mulheres como mercadoria. É preciso lutar contra aqueles que tentam transformar os filhos de nossa classe, em bandidos.
É fundamental impedir que a criança assassinada em junho de 2016, que a menina estuprada por mais de 30 e as dezenas estupradas todos os dias, sejam esquecidos nas estatísticas desse Estado que serve ao Capital.