Setecentos soldados da Brigada Militar invadiram nesta quinta-feira (17) um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Sarandi. Eles cumpriam um mandado de busca e apreensão de alguns objetos que teriam sumido da Fazenda Guerra depois da ocupação simbólica, em Coqueiros do Sul, na última segunda-feira (14).
Aproximadamente 800 policiais já tinham revistado, pela manhã, dois acampamentos do movimento. Eles também queriam revistar o assentamento Novo Sarandi, antiga Fazenda Anoni. No entanto, a Brigada não tinha autorização para a revista, pois o assentamento é uma área federal do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Apesar de um acordo com entre Polícia Civil, Ouvidoria da Segurança Pública e da Justiça de Carazinho, que previa a saída dos ônibus do assentamento para a revista, a Brigada Militar decidiu invadir o assentamento. A decisão teve o respaldo do secretário de Segurança Pública, José Francisco Mallmann, e da governadora Yeda Crusius.
O subcomandante da Brigada Militar, coronel Paulo Mendes, explica que a Brigada Militar queria apenas cumprir a ordem judicial. “Começaram a colocar uma série de obstáculos, chegando ao final eles afirmando que tinha que ser dez policiais civis e cinco brigadianos para entrar lá dentro. Aí quando eu tomei conhecimento disso, encerrei as negociações por parte da Brigada. Aquela proposta para nós não era adequada porque geraria insegurança”, afirma.
O secretário de Segurança Pública chegou a declarar que colocaria o cargo à disposição caso não conseguisse entrar no assentamento. Ele também teria recebido um telefonema de representantes dos Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o incidente. No entanto, Mallmann garantiu que os ônibus da Brigada Militar já haviam ido embora, o que não era verdade, pois os veículos permaneciam no local.
Cerca de 1,2 mil sem terra participam, em Sarandi, do 24º Encontro Estadual do MST, que termina nesta sexta-feira (18). Na avaliação do integrante do movimento Claudir Gaiado, que também é assentado no local, o episódio mostrou que o governo do Estado não está disposto a qualquer tipo de diálogo ou negociação.
“A gente já sabia que o governo do Estado é tão truculento que não consegue se entender nem entre eles. E havia de fato uma determinação da Brigada em entrar dentro do nosso assentamento, mas a gente acha que no fundo havia uma determinação da governadora”, diz.
O objetivo da ocupação da Fazenda Guerra, na última segunda-feira, era pressionar o Incra a cumprir o que havia prometido no final das marchas do Movimento, em Novembro do ano passado. O órgão federal se comprometeu a assentar, até o final de 2008, duas mil famílias, sendo que mil seriam assentadas até o mês de Abril. No entanto, até agora nenhuma família foi assentada.
O MST também reivindica a desapropriação da Fazenda Guerra, que tem mais de 9 mil hectares e ocupa 30% do município de Coqueiros do Sul. Atualmente, a Fazenda emprega apenas dois trabalhadores fixos e 20 temporários. De acordo com o Incra, poderiam ser assentadas na área 450 famílias.